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Projecto REVITAGRI identificou falhas e falta de associativismo no PNPG

Retirado de https://avv.pt/2018/11/19/projecto-revitagri-identificou-falhas-e-falta-de-associativismo-no-pnpg/



Da esquerda para a direita: Áurea Gomes; Ana Paula Vale e Simão Silva, (técnicos e Coordenadora do projecto REVITAGRI)

Produção dispersa, produtores com muita idade, falta de associativismo e pouca valorização dos produtos endógenos que poderiam alavancar a economia ligada ao sector primário e turístico da região.

As conclusões são do projecto REVITAGRI, coordenado pela Escola Superior Agrária (ESA) em parceria com a Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE), ambas da rede de escolas do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, que se propõe identificar e concentrar num geoportal os produtores e empresas localizadas no território do Parque Nacional Peneda-Gerês.

No âmbito do projecto, cabe à ESCE estudar a componente da sucessão geracional dos negócios instalados neste contexto, uma vez que “a maior parte dos negócios instalados no PNPG são empresas familiares”, como realçou Ana Paula Vale, Directora da ESA e coordenadora do REVITAGRI.


Projecto REVITAGRI quer lançar a “semente” para o sucesso dos produtos do PNPG

Inicialmente centrado nas áreas do mel, das aromáticas medicinais e da fruticultura, o projecto acabou por incluir no seu levantamento outros sectores expressivos dos cinco concelhos que compõem o território do Parque Nacional, como a fileira da produção animal e do fumeiro, totalizando 185 produtores.


O total de negócios, aparentemente expressivo – tendo em conta que estão apenas a ser considerados os que estão sediados dentro da área do PNPG – não transparece o desequilíbrio entre os sectores de produção que os técnicos que acompanharam o projecto no terreno, Áurea Gomes e Simão Silva, identificaram.


“É curioso que, em toda a área do Parque [Nacional] em Arcos de Valdevez, haja apenas um apicultor. O sector até está desenvolvido no resto dos municípios, mas em Arcos de Valdevez não, e tem uma montanha grande. Seria um sector interessante para trabalhar”, notou a técnica do projecto, Áurea Gomes, explicando que, para este contexto produtivo, foram apenas consideradas produções com mais de dez colmeias.


Mas algo se passa com o sector da apicultura no PNPG. Segundo a coordenadora do REVITAGRI, os agentes do sector continuam a ignorar o potencial de um produto que tem características únicas nesta região pelas plantas que estão na base do pólen que as abelhas recolhem, como a urze. “É talvez o que tem mais associações, e no entanto continuamos a ver produtores a vender mel num frasco da Tofina no mercado da esquina, sem rotulagem, sem identificação”.


A facilidade em escoar o produto sem estar sujeito a normas de produção ou rotulagem facilita os produtores mais tradicionais, mas os responsáveis do projecto querem que a nova geração reconheça a “mais-valia” de “cumprir regras de embalagem, rotulagem e segurança alimentar, porque isso traz um acréscimo em termos de comercialização”.


A “complicada” solução do associativismo


Apesar de alguns exemplos em que o associativismo pode ser determinante para uma estratégia valorizadora para as produções em menor escala – Ana Paula Vale identifica o associativismo dos produtores de pequenos frutos de Vila Verde, cujos preços de venda de mirtilo e framboesa “quase duplicam” em relação aos do produtor individual – a coordenadora do REVITAGRI diz que “a questão do associativismo é sempre complicada, mas é o caminho”.


“Na produção animal, os que estão ligados à Cooperativa Agrícola e que fazem a comercialização dos produtos através da Cooperativa tem um preço e determinada valorização do seu produto, mas quando falamos das aromáticas ou do mel, são produtores que vivem por si. Nas aromáticas, [os produtores] não estão organizados por associações, produzem, desidratam, embalam e vendem por si só”, esclarece ainda Ana Paula Vale.


A responsável do projecto aponta ainda o associativismo como forma de cativar o interesse de compradores de fora da região, para lá dos pequenos pontos de venda de vocação turística, mas também para chegar aos mercados gourmet. A fruticultura, um dos sectores com expressão no concelho arcuense, poderá ser rentabilizado se souber gerir a atenção já existente dos empresários de fora da região.


“Um empresário disse que se disponibilizava a colocar um camião aqui na zona do PNPG, onde lhe indicassem, e compraria a maçã toda que encontrasse. Não lhe interessa o calibre, porque se destina a fazer concentrado de maçã. É este tipo de ligações que queremos promover com este projecto, empresas que não estão sediadas no Parque, mas podem vir comprar a matéria-prima cá”.



Feijão Tarrestre: Um endógeno com a “raiz” de fora


A aposta do município de Arcos de Valdevez num cabaz de produtos endógenos, como a carne de vaca de raça Cachena, ou o feijão Tarrestre, tem contribuído para o interesse turístico do concelho, mas alguns estabelecimentos alegam que a produção local é insuficiente para cumprir as necessidades, o que já terá levado a recorrerem a produções com origem fora do concelho.


“A produção é reduzida e a pouca que há, está a ser comercializada pela Cooperativa Agrícola”, explica Ana Paula Vale, notando que esta entidade está a promover a valorização do produto através de derivados, como o pastel de feijão, para tornar a produção mais estimulante para os agricultores locais.


O exemplo até pode vir de fora, como refere Áurea Gomes, recordando exemplos de regiões que, perante problemas semelhantes, se associaram, identificaram os produtores mais aptos e estipularam normas de produção. “A ruptura está no entendimento do produtor”, considerou Simão Silva.


Mas, se estes são os produtos necessários ao mercado de hoje, o que falta par estimular os locais a produzir?


“Falta incentivar as pessoas a fixarem-se no território, a serem agricultores e a produzirem, mas ainda há uma visão de que o sector agrícola não é a via mais prestigiada da sociedade. O sector evoluiu porque as novas tecnologias ajudaram, mas não podemos passar do oito ao oitenta e dizer que a agricultura se faz com um tablet na mão. As pessoas podem ter o tablet, ter tudo monitorizado, mas se não tiverem conhecimento não conseguem. Imensos projectos de jovens agricultores desapareceram porque acharam que tinham informação, que iam à internet e tiravam informação. Faltava-lhes o conhecimento”, esclarece Ana Paula Vale.


Normas do PNPG atiram novos empresários para situações “ilegais”


No levantamento de empresas e empresários baseadas no único Parque Nacional do país, os técnicos Áurea Gomes e Simão Silva identificaram alguns casos em que o empreendedorismo dos jovens colide com as limitações normativas do contexto onde pretendem inserir-se.


No caso específico de Arcos de Valdevez, onde “a maior parte” dos 52 negócios sediados no PNPG são de produção animal – criação de gado de raça Cachena – “muitos estão ilegais neste momento, e muitos dos jovens vêem entraves na construção das áreas. Um projecto a que um jovem se candidate tem de ter um número mínimo determinado de animais, mas esse mínimo vai contra a legislação que existe no Parque, então o jovem tem de desistir porque não se pode instalar”, notaram. “Há projectos aprovados que não se podem implementar devido às limitações impostas pela gestão do Parque. O nosso país já é bastante burocrático, estando numa região com este condicionamento, adiciona ainda mais dificuldades”.


A produção “independente”: “Nunca vi tantas enfardadeiras como na Gavieira”


Ainda sobre o associativismo, mas também sobre a partilha de equipamentos na comunidade, os técnicos do projecto REVITAGRI referem que há pouca abertura de alguns empresários em integrar o cooperativismo ou a uma maior colaboração entre agricultores da mesma área produtiva, o que consideram que contribui para a desvalorização de um dos cartões-de-visita do concelho e da região.


“Na [freguesia da] Gavieira, a maior parte está a criar gado em modo de produção biológica, mas só o podem atestar se venderem para a Cooperativa [Agrícola] e a maior parte não vende. Eles até podem produzir em modo biológico e comprovar isso, porque estão certificados, mas o rótulo nunca é colocado na carne, tanto esse como o da D.O.P. [Denominação de Origem Protegida] se o fim não for a Cooperativa, que é a entidade detentora”, explicam.


A culpa desta perda de selos de ‘garantia’ de qualidade, como sugere Ana Paula Vale, por vezes é dos produtores que resistem às normas impostas pela Cooperativa. “Para o produto ser vendido para a Cooperativa tem de ter uma fase de acabamento em ambiente confinado, para a carne ser mais tenra. Os animais deixam de estar em pastoreio livre para estar em ambiente confinado, e alguns produtores não querem fazer isso, mas a cooperativa tem de manter a qualidade do seu produto e exigir isso”.


“As questões do cooperativismo e do associativismo não são fáceis porque muitas vezes as pessoas não tem aquele espírito de se associar e trabalhar em conjunto, e o minhoto tem um problema – se calhar não só o minhoto, mas também – que é ter um muro muito alto à volta das suas quintas, dizer “o que é meu é meu, não vou partilhar”, e isso é uma má estratégia”, criticou ainda a coordenadora do REVITAGRI.

Um entendimento que os técnicos corroboram: “As pessoas não emprestam instrumentos agrícolas uns aos outros. Nunca vi tantas enfardadeiras num sítio como a Gavieira. Quase todos têm um tractor e uma enfardadeira”, observou Áurea Gomes.

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